Muitos cristãos enxergam o Espírito Santo como uma força mística que impulsiona atos emocionais — orar em línguas sem sentido, exibir comportamentos extáticos descontrolados ou buscar curas instantâneas. Essa percepção distorce a verdade revelada em João 14:16-17: “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre". Na teologia reformada, o Espírito é uma pessoa divina, não uma energia impessoal, guiando a igreja com sabedoria e ordem. O avanço do neopentecostalismo e a influência pós-moderna, que valoriza experiências subjetivas acima da doutrina, têm intensificado esse equívoco. Este artigo explora a identidade do Espírito com profundidade, refutando tais visões com argumentos sólidos, e convida os leitores a adorá-Lo como Consolador soberano.
A obsessão por sensações revela mais nossa ansiedade cultural do que a verdade revelada na Palavra — um fenômeno que clama por uma resposta bíblica sólida. Com essa realidade em mente, examinemos agora como essa verdade foi distorcida.
O Mistério que Nos Confronta
A identidade do Espírito Santo desafia interpretações simplistas. Alguns o encaram como uma força, um poder a ser invocado em momentos de êxtase. Contudo, João 16:13 afirma:
“Quando vier, porém, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade.”
Calvino, em Institutas (Livro I), escreve: “O Espírito é o aplicador da Palavra, não um poder autônomo que age à parte da vontade divina.” Bavinck, em Dogmática Reformada, ensina que o Espírito compartilha a essência divina, operando com propósito na Trindade.
Se o Espírito fosse impessoal, como explicar Sua intercessão em Romanos 8:26-27, onde “intercede por nós com gemidos inexprimíveis”? Essa ação exige consciência e relação pessoal. Adicionalmente, Atos 5:3-4 prova Sua divindade: “Ananias, por que mentisses ao Espírito Santo? [...] Não mentiste aos homens, mas a Deus.” Ele é coigual na Trindade, ativo na criação (Gênesis 1:2) e na redenção (Tito 3:5).
Wayne Grudem, em Systematic Theology (1994, p. 226), argumenta que o Espírito possui conhecimento (1 Coríntios 2:10-11) e vontade (1 Coríntios 12:11), refutando a ideia de uma força manipulável. A confusão surge de uma leitura superficial das Escrituras, ignorando a revelação progressiva. Além disso, Efésios 4:30 ordena: “não entristeçais o Espírito Santo”. Como uma força impessoal poderia ser entristecida?
Talvez a tendência de reduzi-Lo a uma força revele nossa resistência a um Deus pessoal que exige submissão: Em uma era de individualismo e espiritualidade customizada, queremos experiências poderosas sem compromisso com a verdade. Contudo, essa visão distorcida não apenas enfraquece a doutrina bíblica, mas também obscurece a revelação das Escrituras.
A Distorção que Precisamos Corrigir
A visão do Espírito como uma espécie de ‘força’ floresceu no neopentecostalismo. Augustus Nicodemus observa que igrejas transformaram o Espírito em uma energia para milagres — curas, línguas e profecias — frequentemente sem ordem bíblica. Práticas como orar em línguas sem interpretação, exibir comportamentos descontrolados ou buscar “unção” com óleo sugerem que Ele é algo sem propósito próprio, oposto a um guia racional.
A Escritura, por outro lado, exige ordem. 1 Coríntios 14:40 declara: “Tudo seja feito com decência e ordem.” Hernandes Dias Lopes, em Luz para o Caminho (2024), alerta:
“O Espírito não é uma energia que manipulamos; Ele é soberano e nos guia à santidade.”
Sproul argumenta que atribuir ao Espírito atos desordenados ignora Seu papel de edificar a igreja com sabedoria. Atos 15:28 — “pareceu bem ao Espírito Santo e a nós” — mostra Sua deliberação, um ato que uma força impessoal não poderia executar. Volney Berkenbrock, em O Espírito Santo – Deus em nós (2021, p. 45), critica a hiper-espiritualidade que confunde o Espírito com manifestações sensoriais. John MacArthur, em Strange Fire (2013, p. 89), adiciona que essas práticas distorcem a pneumatologia bíblica, levando a um culto centrado no homem.
Consideremos 1 Coríntios 14:27-28: “Se alguém falar em língua, faça-se por dois, ou quando muito três, e por sua vez, e haja intérprete; mas, se não houver intérprete, fique calado na igreja.” Esse texto estabelece um conselho claro — línguas devem ser limitadas, alternadas e acompanhadas de interpretação para edificação. Contudo, em muitas igrejas, observa-se o uso indiscriminado de supostas línguas sem qualquer controle ou tradução, frequentemente em um caos que prioriza uma oratória emocional. Tal prática não apenas desrespeita a instrução apostólica, mas fere uma referência bíblica explícita, demonstrando que tais atos derivam de outras coisas, menos da vontade do Espírito. Como, então, podemos restaurar a compreensão correta do Espírito?
A Verdade que Nos Guia
Atos 2:1-4 relata Pentecostes: línguas de fogo desceram, mas Pedro pregou com clareza (Atos 2:14). Essa narrativa revela Sua ação capacitando a igreja para a missão. Bavinck afirma: “O Espírito é o agente da regeneração, santificando os eleitos para a glória de Cristo” (Dogmática Reformada). Em outras palavras, Ele renova os corações e conduz os crentes à semelhança de Cristo. Calvino ensina que Ele aplica a Palavra, iluminando os crentes com discernimento, não emoção crua — Ele abre as Escrituras para que compreendamos a verdade divina com clareza.
Seus papéis — regeneração (Tito 3:5), santificação (1 Pedro 1:2), e inspiração (2 Timóteo 3:16) — são atos pessoais. João 15:26 o chama “Espírito da Verdade”, algo que nos leva a caminhar em santidade — um contraste com uma cultura que busca incessantemente por sensações e prazeres rápidos. Em Atos 10:44-48 (conversão de Cornélio) vemos Sua descida ordenada, levando ao batismo e ensino. Berkhof destaca que o Espírito é o vínculo da comunhão trinitária (O Espírito Santo – Deus em nós, 2021). Gálatas 5:22-23 mostra qualidades como amor e paciência, frutos do Espírito. Essa profundidade nos convida à adoração de sua verdadeira pessoa.
O Chamado à Adoração Ordenada - Espírito Divino
Como podemos viver essa verdade? Ore ao Espírito como Consolador (João 15:26), buscando orientação, e não manipulação de forças sobrenaturais. Sproul sugere que a espiritualidade é submissão ao Espírito, não moldá-Lo às nossas expectativas.
Se Ele é uma pessoa, o culto deve ser racional e reverente. O culto caótico ignora que o Espírito distribui dons soberanamente (1 Coríntios 12:11). Movimentos históricos (ex.: avivamentos do século XX) mostram desvios — o que reforça a necessidade de alinhamento bíblico. A ordem do Espírito combate o relativismo cultural, chamando a uma fé fundamentada.
Na prática, cultos devem priorizar a pregação da Palavra (Romanos 10:17), onde o Espírito opera. Se o Espírito guia à verdade (João 16:13), o ensino expositivo é Sua ferramenta principal. De nada valem situações extraordinárias e mirabolantes no dia do Senhor, se em sua vida ordinária você continua vivendo para a carne. Isso não significa que o cristão não possa sentir a presença do Espírito Santo ou ter uma experiência profunda na fé, mas essa experiência nunca pode ser divorciada da verdade bíblica. A emoção deve ser submissa à doutrina, não o contrário.
Conclusão
Em suma, constatamos que o Espírito Santo não é uma força impessoal, mas uma pessoa divina, coigual na Trindade, cuja presença ressoa desde a criação (Gênesis 1:2) até a santificação dos eleitos (1 Pedro 1:2).
A Escritura, em João 16:14 — “Ele me glorificará” — e a teologia reformada, com vozes como Calvino, Bavinck e Sproul, desmascaram a distorção que reduz o Espírito Santo a uma energia manipulável. Refutamos essa visão com argumentos bíblicos e teológicos que destacam Seu papel de Consolador. A interpretação de textos como Efésios 4:30 e Gálatas 5:22-23 reforça Sua personalidade, enquanto uma análise histórica expõe os desvios de movimentos sensacionalistas com os quais devemos ter cuidado.
Levanta-te e adore
Esta não é uma questão menor. Estamos diante de uma crise espiritual onde a cultura pós-moderna, com seu relativismo, troca a submissão à verdade por experiências efêmeras. O Espírito Santo, em Sua soberania, é o guia divino que ordena a igreja, distribui dons segundo Sua vontade (1 Coríntios 12:11) e exige de nós uma adoração racional e santa. Desde Sua identidade revelada na Escritura até Seu papel ordenador na igreja, o Espírito é uma pessoa divina, não uma força impessoal. Rejeite os abusos emocionais que profanam Sua santidade e abrace Sua direção na Palavra com fervor.
Que nosso louvor seja um testemunho ardente de Sua glória, uma chama que ilumina as trevas desta era e proclama a harmonia da Trindade com autoridade e reverência. Levante-se, Igreja, e honre o Consolador como o Deus vivo que Ele é!
Calvino, Institutas da Religião Cristã, Livro I. Bavinck, Dogmática Reformada, Vol. 2. Sproul, The Mystery of the Holy Spirit. Hernandes Dias Lopes, Luz para o Caminho, 2024. Augustus Nicodemus Lopes, O que você precisa saber sobre o Pentecostalismo. Berkhof, O Espírito Santo – Deus em nós, 2021. Grudem, Systematic Theology, 1994. MacArthur, Strange Fire, 2013. João 16:13; 1 Coríntios 14:40; Atos 5:3-4.
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